Home Cotidiano Quanto custa estudar Enfermagem e Medicina em Minas Gerais?

Quanto custa estudar Enfermagem e Medicina em Minas Gerais?

by Ana Flávia

Com o aumento do acesso às Universidades a partir da década passada, jovens e adultos tiveram a possibilidade de se matricularem em redes privadas de educação superior.  O aumento de 65% de estudantes nas faculdades de 2003 a 2009 (Censo de Educação Superior 2009) trouxe o questionamento de como estaria a qualidade do ensino superior privado disponibilizado e qual seria o seu custo, seja durante ou depois de concluído o curso.

Dentre as condicionantes desses dados estão aspectos que vão além da matrícula e mensalidade pagos para as empresas de educação. Transporte, alimentação, moradia e mudança do cenário político econômico afetam profundamente os levantamentos e análises a respeito dos dados. A taxa de câmbio, por exemplo, era de 1,70 em 2010 (economia.uol.com.br) e na semana passada chegou ao valor recorde de 4,25. Taxa referente ao dólar/real.

Esta mudança de ordem política/econômica afeta em todos os preços relativos ao consumo nacional a partir de um efeito dominó da moeda que acarreta na inflação dos preços. Seguindo este efeito dominó, as instituições privadas passam a fazer reajustes de correção de inflação da mensalidade cada vez mais encorpados (dados do Panorama do Ensino Superior Privado / Quero Bolsa (INPM-QB)).

Um outro agravante na condição econômica que atinge a população em âmbito nacional é o desemprego que nos últimos 10 anos foi de 6,7% em 2009 para 11,6 deste ano (ambos os dados segundo o IBGE). Todos esses aspectos criam a conjectura de um país que tem mais acessibilidade à educação superior hoje do que era nos anos 90, mas que tem estudantes com mais dificuldade em pagar seus custos se comparado a década passada.

Pensando no que os fatores que afetaram e afetam nosso país em relação a cursos superiores, fracionamos o recorte da política/economia da região metropolitana de BH, para tanto, conversamos com algumas pessoas que estudam/estudaram Medicina ou Enfermagem – dois dos cursos mais procurados no país.  A primeira delas é a Rafaella Trindade, estudante da Faminas.

P: Porque você escolheu esse curso e essa faculdade?

R: Na verdade escolhi o curso apenas por ser da área da saúde que é a área que mais me identifico, só com o passar dos semestre que me identifiquei com o curso. A faculdade eu escolhi porque foi onde a minha nota do Enem passaria com tranquilidade.

P:Você acha que o valor do curso condiz com a estrutura curricular que eles propõe ?

R: Hoje sim, quando eu entrei na faculdade não, porque não tínhamos acesso a todos os laboratórios, apenas outro curso. Mas, em pouco tempo conseguimos acesso ao laboratório é isso contribuiu muito para nossa grade curricular, ai o valor pago passou a ser mais justo.

P: O ensino está correspondendo suas expectativas?

R: Está sim, Por se tratar de 05 anos de curso eu acho que os estágios poderiam passar por mais áreas, hoje só tivemos contato com 05, mas de certa forma temos este ensino suprindo pelos laboratórios e  simulação então acabamos adquirindo o conhecimento.

Com o depoimento de Rafaella podemos refletir sobre outros fatores que infligem na análise sobre as universidades particulares de enfermagem, como entrada no mercado de trabalho custo benefício e nestes dois aspectos ela cita obstáculos que teve de passar para estudar na Faminas.

A entrada no mercado de trabalho de um profissional da saúde é diferente de profissões de outras áreas, tendo a necessidade constante de estar acompanhado de um professor. Este requisito, apesar de ser inquestionavelmente imprescindível, traz mais um obstáculo ao estudante da área. 

A alta cobrança pelo trabalho realizado, junto do alto nível de pressão que o profissional e estudante de enfermagem tem sobre ele, faz desta uma das profissões com maior nível de estresse vinculado, segundo pesquisa feita pela USP em 15 de julho de 2019. Conversamos com Allan Willis Albernáz Vasconcellos estudante da Escola Superior de Ciências da Saúde para saber a realidade dos preços e estrutura em âmbito nacional. 

P: Qual metodologia vocês usam na sua faculdade?

R: Lá seguimos uma metodologia de aprendizagem diferente. Seguimos metodologias ativas sendo a principal a PBL (problemática baseada em problemas).

P: Como é a realidade de vocês dentro do curso:

R: Não temos um professor pra ensinar as coisas. Os alunos seguem uma metodologia, que não cabe explicar por que a gente tem um módulo para aprender como fazer, e se depararam com algum problema.

Por exemplo no 2º de faculdade vemos saúde da mulher.

O problema: parturiente com tais sinais aparece na ginecologia de tal hospital apresentando. Daí os estudantes definem seguem o método e fazem os objetivos de aprendizagem. Isso tudo é auxiliado pelo Tutor (que no caso seria o professor)

P: Como funcionam estes tutores

R: Todo tutor da ESCS (escola superior de ciências da saúde) é vinculado à secretaria de saúde. Todos têm vivência prática no sistema de saúde do DF.

P: Qual a diferença desta instituição para as outras?

R: É isso já fala de outra coisa diferente da ESCS… É que temos estágio desde a 3ª semana de faculdade, Também segundo moldes de metodologias ativas… Porém voltadas para prática.

P: Em âmbito nacional, como seriam?

R: Agora falando do que eu conheço de enfermagem em Brasília, são 4 realidades diferentes:

 1- Unb

2- ESCS

3- Particulares boas

5 – Particulares ruins

UnB é sensacional e segue metodologia tradicional e tem um foco maior e teoria e pesquisa

ESCS é sensacional e segue metodologias ativas e tem um foco maior na prática clínica.

P: Como funciona a questão dos valores das mensalidades de cada faculdade?

R: As particulares boas normalmente são mais caras e apresentam bons professores, mas o sistema de ensino particular é “menos rígido ” e isso por vezes forma uma enfermagem menos competente.

E as particulares ruins, infelizmente, são as mais baratas onde os professores não são tão qualificados às vezes até são, mas o nível dos alunos é muito baixo, Inseridos num contexto de formação “menos rígido” que acaba formando profissionais sem vivência / conhecimento suficiente.

P: Vale a pena fazer o curso?

R: Se vale a pena cursar, vale… sempre vale, por que eu acredito muito que o estudante faz o curso, mas em Brasília temos muitas realidades de enfermagem diferentes e isso gera uma disparidade de formação.

Daí vem o importante papel das especializações pós formação, principalmente: residência (caso o profissional queria seguir assistência) e mestrado (caso o profissional queira seguir docência).

Outro ponto importante quanto ao gasto mensal dos alunos está nos alunos de universidades federais que mesmo não pagando diretamente pelo estudo, tem gastos com a forma que suas vidas se moldam em prol do estudo. Entrevistamos Juliana, estudante da UFMG, para saber como ela vê a rede pública e a comparação com a rede privada.

P: Você ainda está fazendo o curso? E qual a faculdade?

R: Estou fazendo o curso ainda sim. Estou no quinto período. E estudo na UFMG.

P: Qual o seu gasto mensal com o curso na UFMG?

R: Então, meu gasto é mais ou menos uns 300 reais por mês, porque eu pego um ônibus pra ir e um pra voltar, já que eu moro em BH. Nesses 300 reais tb fica incluído o almoço, que na faculdade é 5,60 por alunos. Quando eu levo almoço de casa eu economizo um pouquinho, mas é mais ou menos por aí.

P: Quais mudanças estruturais você teve que fazer na sua vida para que pudesse estudar em uma Universidade Federal?

R: Se você levar em conta que eu tive que mudar pra BH pra locomoção ficar mais fácil, eu gasto +800 reais por mês, que fica referente aos gastos da casa (aluguel, condomínio, luz, água, etc.).

P: O que você acha da qualidade do ensino?

R: Na UFMG a qualidade do ensino é maravilhosa, nós temos acesso a todos os tipos de laboratórios, peças, materiais, etc. Eu já fiz um período de enfermagem na PUC e comparando posso dizer que a UFMG é muito mais puxada e exige bem mais dos alunos. Aliás, é puxada até demais ao meu ver.

O curso de enfermagem tem a grade integral, então muitos dos dias nós passamos o dia todo na faculdade. Fora os dias que a gente tem que migrar do campus da Pampulha para o campus saúde, que fica na Alfredo Balena. Tem dias que a gente tem aula de manhã em um campus e à tarde no outro, isso até o 5 período.

P: A grade curricular está atendendo suas expectativas?

R: A grade curricular está atendendo minhas expectativas sim, mas a UFMG tem algo que eu não gosto, que é separar os 5 primeiros períodos para o ciclo básico e só depois a partir do 5° que a gente vai ter contato com o que é mesmo a profissão, com as disciplinas mais específicas da área.

Acho que devia ter um contato mais com a prática da profissão desde o início, porque muitos entram na faculdade com dúvida do que vão fazer, e isso ajudaria muito no caso de um aluno não gostar e decidir mudar. As matérias do ciclo básico são comuns para a maioria dos cursos da saúde, então só fazendo essas matérias a pessoa não tem como saber se é aquilo mesmo que ela quer fazer para o resto da vida.

Para que façamos a comparação entre valores do custo do estudo que existe hoje e o que era anos atrás, conversamos com Andrezza Segato Freitas, formada em 2011, época em que o país vivia outro período político e econômico e que traz comparações estruturais com o que era feito antes e com o que é atualmente.

P: Como era o gasto mensal na sua época?

R: A mensalidade variou de R$ 836,00 a 1.200. Para a mensalidade em si considerando toda estrutura por trás, sim estava dentro do que era justo. Porém juntando os outros demais gastos como xerox, transporte, lanche dentre outros gastos a conta não fechava. Então, fazendo um balanço geral, estudar em uma universidade particular sai quase que o dobro mais caro, se pensado nos gastos fixos.

P: O gasto foi equivalente com a qualidade de ensino?

R: Sim, tínhamos uma infraestrutura completa, um corpo docente em nível de mestrado e doutorado e alguns deles médicos. Laboratórios completos (com cadáveres, partes do corpo humano) o que era necessário à minha área, biblioteca atualizada.

P: Como era a qualidade de ensino na sua época? Você acha que houve mudanças de lá pra cá?

R: A Qualidade de ensino era ótima, comparado a outras universidades estávamos um passo à frente e hoje acredito que a qualidade vem melhorando, uma vez que seja necessário e a escola sempre esteve atualizada às exigências do mercado.

P: Hoje, você acha que o gasto equivale com o que a faculdade oferece?

R: Sim, o gasto é equivalente a estrutura e ensino recebido.

P: Quais as principais diferenças estruturais que você vê de hoje para aquela época?

R: Diante das exigências do mercado e as novas tecnologias, a Universidade em que estudei hoje tem dado maior ênfase na questão prática da profissão, além de disciplinas, estágios obrigatórios em locais importantes para o atendimento da população, a escola tem realizado simulados realístico de catástrofes, o que em outros tempos não era realizado com tanto enfoque como hoje é.

Muitos jovens que saem do ensino médio, tem o sonho de cursar Medicina. Porém, o curso além de ser muito concorrido, nas faculdades particulares tem preços altíssimos, alguns estudantes muitas vezes recorrem à Vakinha online, ou então buscam uma forma de renda complementar para arcar com as despesas. As mensalidades variam entre 7 e 8 mil reais, e os estados que têm os valores mais altos são: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.  

O médico profissional tem uma das rendas mais altas do país, de acordo com o Guia de Profissões e Salários da Catho a média é:

Gerente Médico: R$ 14.783

Coordenador Médico: R$ 10.780

Pediatra: R$ 7.338

Médico do Trabalho: R$ 7.242

Clínica Geral: R$ 6.617

Ginecologista: R$ 6.201

Psiquiatra: R$ 5.869

Cardiologista: R$ 5.419

Esta alta remuneração da profissão torna a demanda por ele uma das maiores, ainda contando sempre com os gastos que a faculdade tem durante o curso o que faz deste um dos mais caros aos que tem, por opção ou resigno, a faculdade particular como caminho para o diploma. Conversamos com Bárbara Gurgel, estudante do 5° período de Medicina da FASEH.

P: Qual o seu gasto mensal com o curso?

R: O custo mensal do curso de medicina da FASEH para o aluno do quinto período está em torno de R$ 8.600,00. Mas pelo projeto do governo, que é o ProUni, eu tenho 50% de desconto no preço da minha mensalidade. 

Outra questão, é que esse valor da mensalidade varia de acordo com o período que você se encontra, por causa dos reajustes anuais que a mensalidade sofre. Por isso, alunos de períodos abaixo do que eu me encontro, pagam preços mais altos na mensalidade. 

Em relação aos materiais, a maioria dos professores disponibilizam de forma online e a faculdade possui uma excelente biblioteca, o que reduz custos extras. Por exemplo, estou no quinto período e nunca precisei comprar livros para meus estudos, sempre tive disponível na faculdade

P: O gasto com o curso equivale a qualidade oferecida?

R: A FASEH, no início do ano foi a avaliada com nota 5 pelo MEC, algo que poucas faculdades de medicina têm. A qualidade dos laboratórios é muito boa e consegue comportar a quantidade de alunos que a faculdade tem. Além disso, temos a clínica escola que é o ambulatório da faculdade, que possui em torno de 30 consultórios, com sistema unificado para realizar as consultas aos pacientes da comunidade e atualmente, abriu uma nova clínica escola em Lagoa Santa para melhorar ainda mais a infraestrutura da faculdade. 

Temos oportunidade de frequentar hospitais, como IPSEMG e Baleia, desde o início do curso, devido ao vínculo da faculdade com essas instituições, referindo melhor qualidade ao ensino. 

P: Você analisou esses gastos na hora da escolha do curso?

R: Com certeza, eu analisei esses custos para ingressar no curso de medicina. A proximidade da faculdade com a minha residência, faz com que eu não tenha custo com moradia e alimento tão altos. Além disso, a possibilidade de uma bolsa de estudos também foi um critério para continuar na faculdade. 

Mas, infelizmente, os preços das faculdades no curso de medicina em BH e região metropolitana estão bem similares, o que permite ao aluno que for ingressar no curso utilize outros critérios para o início, além do curso da mensalidade.

A percepção final que surge a partir das entrevistas e dados coletados nos faz refletir sobre a dificuldade inerente ao ato de estudar em nosso país.

Se a instabilidade já não fosse algo de decorrência pontual, é também sintomático do estado que a política econômica nacional e estadual fazem sobre as contas dos estudantes. Algo que afeta não apenas indivíduos esporádicos, mas toda a conjuntura de produção, atendimento e acessibilidade aos meios de tratamento médicos.

Em suma, ainda existe no país um abismo entre o ideal estrutural que a sociedade brasileira demanda, e aquilo que é disponibilizado hoje. Com problemas em sua base – na estrutura econômica do ensino e sua acessibilidade ainda menos democrática do que deveria – até chegar a demanda grande demais para a necessidade de atenção aos que precisam.  

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